Os Magos


Era noite de sexta feira, estavam todos reunidos na cozinha conversando e sorrindo muito. Era muito bom quando feriado da padroeira  caía numa sexta. Porque todos podiam ficar acordados até mais tarde, e Samy adorava o céu da madrugada. Aqueles pontinhos brilhantes! Tantas estrelas no céu, e por mais que ela contasse sempre perdia as contas, eram infinitas como seus sonhos.

Fizeram uma fogueira no quintal da casa, e entre as brasas colocaram algumas batatas doce para assar. Enquanto esperavam ficarem prontas todos conversavam com empolgação, os homens já haviam bebido um pouco e estavam cada vez mais alegres. A Vila era conhecida pela redondeza pro produzir uma boa cachaça, e em ocasiões especiais eles se permitiam desfrutar um pouco mais desta iguaria.

Samy olhava para seu pai e seu tio se esforçando ao máximo em uma queda de braço. Ela sorria a toa pois a feição daqueles rostos eram muito engraçadas. Olhos em fendas, testa franzidas e lábios semi cerrados. Isso tudo em busca de um vencedor.

Estavam todos concentrados na luta de braços, quando sua avó apontou para o céu e falou:

--Olhem uma estrela cadente!

Todos pararam para olhar, Samy ficou em êxtase! Ela sempre ouvira falar sobre estrelas cadentes mas nunca vira uma! Sua avó falou novamente:

-- Quando uma estrela cadente aparece no céu, nós devemos fazer um pedido!

Todos então fecharam os olhos e fizeram seus pedidos. Samy se viu em desespero! Com tantos anseios, como fazer um único pedido? Ela ponderou as opções e com toda fé que possuía desejou: "quero que meu futuro seja diferente, não quero que aconteça comigo o que o sempre acontece com todos da vila, eu quero viver uma aventura!"

Ela abriu os olhos e sorriu,  a estrela cadente já tinha sumido, só ficara seu rastro luminoso.

Sua avó olhou sorrindo pra ela disse:

-- Estrelas cadentes são especiais, elas sempre pedem uma história!

Neste momento todos ficaram quietos e fizeram um meio círculo em volta da Sra. Manuela, velhos e crianças, todos queriam ouvir e escutaram com atenção...

-- Meus queridos conta uma lenda, que desde a fundação do mundo as estrelas cadentes são presságios. Muitos acreditavam que eram de má sorte, outros de boa sorte mas nunca se chegou a um consenso. Porém quando eu era menina, uma história me foi contada. Uma história passada de geração para geração, como agora falo a vocês. Mamãe sempre dizia que uma estrela cadente era um aviso, que em breve pisariam forasteiros em suas terras, pessoas se vestiam de modo estranho e sempre ficavam na floresta e nunca se hospedavam na cidade, o povo da vila diziam que eram feiticeiros e bruxos, mas eles se denominavam "Os Magos do Oriente".
Em campina alta, que era cidade de meu nascimento, certa noite surgiu no céu uma estrela cadente. Todos ficaram assim como nós maravilhados e fizeram seus pedidos. Logo depois da todo aquele alarde, alguém se lembrou da história que mamãe contava, e naquele momento todos pensaram: "amanhã saberemos se é verdade ou não". Mamãe não falou nada, apenas ficou sentada em sua cadeira com um sorriso enigmático no rosto.
Não consegui dormir aquela noite, eu revirava na cama pensando se Os Magos viriam mesmo. As pessoas falavam tanto neles,  tantas histórias fantásticas, que só de pensar que talvez eu os visse já era motivo para me tirar o sono.
O sol já estava quase saindo quando eu resolvi levantar, em casa já estavam todos de pé. E não se falava em outra coisa, a cidade toda havia madrugado! Os Magos haviam chegado! Eles fizeram acampamento na floresta que ficava a beira do riacho. Todos estavam encantados, mas ninguém ousava se aproximar!
Eu movida de uma inquietação muito grande, resolvi ir pela cercanias e espiar os magos. Como eram estranhos! Que roupas esquisitas, cabelo coloridos, e os olhos! Eu nunca tinha visto olhos naquela cor, eram olhos de um lilás intenso, quase roxo! Para mim era impossível existir um olho com aquela cor, eu não acreditaria se alguém me contasse, mas eram os meus próprios olhos que estavam vendo! E eu sempre fui boa da vista!
Um dos magos me pegou espiando e eu me assustei muito, mas ele fez um gesto para que eu tivesse calma, e me aproximasse. Eu estava com medo, mas resolvi ir. Eles conversavam animadamente em uma língua estranha, quando me viram se aproximar começaram a falar em minha língua, e eles diziam
-- Temos visita!
E havia gritos de animação!
-- Uma criança!
-- Venha comer conosco!
Logo me senti em casa, eles eram muito receptivos, e estavam fazendo uma comida que cheirava muito bem! Uma sopa com algumas raízes, e coelho assado!  
Eles me disseram que estavam de passagem, que logo partiriam mas que minha visita havia sido uma alegria para eles. Enquanto a comida ficava pronta eles continuavam conversando e um tom amigável comigo. Me perguntaram quantos anos que eu tinha, o que eu achava deles, se eu tinha medo. Eu respondi a todas as perguntas alegremente, algo que não existia mais era o medo!
Eles então me revelaram que estavam sendo perseguidos. Que não era mais seguro seguir livremente sua Prática. E revelaram algo mais surpreendente, eles haviam feito um feitiço de proteção em volta do acampamento! Só pessoa puras e com boas intenções poderiam adentrar o perímetro! Eu nem posso dizer que fiquei encantada ao ouvir aquilo!
Eles permaneceram por quatro dias ali na floresta da vila, antes de partir. Eu os visitei todos os dias. No ultimo dia de sua parada em nossa vila, Aysha, uma bruxa mais velha retirou de um baú um cordão de onde pendia um grande pingente, em formato de pirâmide, da cor de seus olhos e entregou a Jerome o bruxo que havia me chamado no primeiro dia.
Ele colocou o cordão em meu pescoço e disse, você agora é a guardiã desta magia. Ela a protegerá, mas você será encarregada de proteger o cordão, você não pode vendê-lo. Você só pode doá-lo para alguém de sua família, e esta pessoa será encarregada de continuar a proteção. No momento oportuno, a magia se revelará.
E com um beijo um minha testa eles seguiram seu caminho.

Todos estavam abismados com a história. Não havia certeza se era verdade ou não. Ninguém nunca havia visto este cordão. Mas naquela noite os ventos da mudança começaram a soprar. Muito em breve o cordão teria outro dono. A magia pulsava querendo revelar-se. Mas o momento oportuno ainda não havia chegado.


Pedidos feitos a estrelas cadentes, podem até não se cumprir, mas os ouvidos dos magos estão sempre atentos! Sempre! (Continuaaa....)

LEIA AQUI A PARTE 1

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