Samy olhava para o horizonte e se perguntava o que haveria lá, lá onde a vista não alcançava, onde ela só enxergava o ponto de fogo brilhante que era o por do sol. Desde criança ela nunca saíra da vila onde nascera. Era uma população pequena, campestre, alegre, que se satisfaziam com o pouco e quando tinham muito sabiam valorizar.
       Mas ela queria mais, ela adorava a vida que sempre levou, mas todas as tardes em que ela subia naquele salgueiro e contemplava o por do sol, ela sentia vontade de ir além! De correr atrás daquela bola de fogo como Apolo! Sim ela conhecia a mitologia! A verdade é que sua vontade de ir embora se deu desde que aprendeu a ler e começou devorar livro após livro da pequena biblioteca de sua cidade! Quando ela passou a conhecer o mundo através das palavras, das figuras, dos romances...
       Ela não entendia como as pessoas poderiam se acomodar com tanta facilidade, então entendia como elas conseguiam conviver com a mesmice, ela não! Ela gostava do novo! A cada semana ela estava lá pegando mais um livro, ela já era conhecida por todos naquela singela biblioteca. A bibliotecária sabia seu nome, o moço que varria também, a moça da limpeza também. E Samy vinha com um livro lido e voltava com um novo mundo em sua mãos!
       Certa feita, todos em sua casa estavam dormindo, Samy acendeu uma pequena vela para continuar sua leitura e não incomodar ninguém. Ela lia uma comédia romântica nesta noite, e se controlava para não gargalhar com as peripécias do casal. Foi quando ela parou e pensou que gostaria de viver um romance como aquele! Que não tem previsibilidade, que sente vontade de rir, e minutos depois de chorar! Que abraça e se beija depois briga e se estapeia! Ela percebeu então, que em sua pequena cidade, onde todos se conheciam, ela não encontraria uma pessoa assim! Decidida então, por um impeto, ela resolve partir! 
       Samy então conta suas economias de toda uma vida e arruma uma pequena mala. Ela escreve um carta de despedida e deixa sobre a penteadeira, e espera o nascer do sol. Dessa vez ela irá correr atrás do astro luminoso. Ela anseia que ele a leve até uma vida imprevisível, onde ela não saberá o que esperar de um dia nem do outro, nem do futuro!
       Preparada para ir, ela pula a janela, dá uma última olhada para sua casa simples, e após um profundo suspiro Samy segue adiante rumo a saída da vila. Alguns quilômetros de distancia a separam de uma rodoviária, onde ela pretende entrar no primeiro ônibus que estiver saindo.
      Mas algo acontece, caído na beira da estrada está um jovem. "Que rapaz esquisito" pensa ela! Anéis nos dedos, colares em volta do pescoço, roupas estranhas. Ela decide passar de largo, mas ela o escuta pedir ajuda. Samy continua andando, mas decididamente não consegue deixar aquele rapaz ali jogado para a morte. Ela volta e pergunta a ele o que ele tem e como pode ajudá-lo.
       Ele olha para seu rosto e seus olhos enchem-se de lágrimas, e ele diz que ela estava indo atrás do sol, e ele vindo buscar a lua! Samy, se assusta! Como pode um estranho saber algo tão intimo? Ela deixa o pensamento de lado, o rapaz queima em febre deve estar alucinando. Só então ela vê dois furinhos na panturrilha do rapaz. Picada de cobra! Samy sabe que dependendo da cobra ele terá pouquíssimas chances de sobreviver!
     Ela diz que vai buscar ajuda, mas ele diz que não dá há tempos suficiente para isso! Pede que ela pegue um livro dentro de uma mochila surrada e abra na pagina 52! Ela quer questionar, mas todo mundo sabe que não se nega o ultimo pedido de um moribundo, e aquele rapaz está mais perto da morte do que da vida. Ela abre a mochila, sem saber o que pensar, sem saber que livro o rapaz queria. Será que ele quer ouvir uma ultima história antes da morte? ela pensa.
       Mas quando ela abre a mochila, encontra um livro grosso de aparência velha mas que está bem cuidado. Em sua capa há inscrições douradas em uma língua por ela desconhecida, e ele possui o entalhe de alguns símbolos  Quando abre na página 52 ela se espanta está escrito "Feitiço de cura". Ela então compreende porque o rapaz é tão estranho, seria ele um dos magos que viraram lenda em sua pequena vila? Com as poucas forças que lhe resta o rapaz lhe diz que já estava próximo a algumas ervas chamadas sândalos e artemísias e elas são o componente essencial para o feitiço, mas ele não teve forças para chegar até local onde elas estavam e colhê-las. Então ele dá algumas coordenadas para que ela encontre-as, e ela mesmo descrente vai a procura!
        Está exatamente onde ele disse! A oeste de uma plantação de eucalipto ela encontra uma pequena planta rasteira de folhas cortantes ao lado de uma arvores frondosa com belas flores. Ela retira um punhado das folhas e das flores e volta correndo como louca! Quando ela chega ao local o rapaz esta quase em seu ultimo suspiro. Ele lhe diz que não conseguirá efetuar o feitiço, e pede como muita humildade para que a lua que brilha diante de seus olhos conjure-o para ele.
        Samy se sente atordoada. Nunca fora religiosa, mas também não era descrente. Porém essa situação desafiava todas as suas crenças. Será que ele era um dos magos das histórias de sua avó? Será que o feitiço daria certo? E se desse certo como seria seus pensamento e sua vida dali em diante?
        Ela resolve tentar.
    Mas antes de tentar conjurar o feitiço, certo como choverá em novembro, ela percebe um fato consumado: sua viagem acabara ali, aquele jovem na beira da estrada mudaria todos os seus planos. Ela viveria uma vida incerta sim, mas por novos motivos e novos propósitos.
      Esvaziando sua cabeça desses pensamento, Samy então começa a amassar as folhas e as flores dentro das mãos preparando uma pequena infusão, ela olha para a página 52 e recita:

"Ó natureza tu dá dá vida, e tu a toma

contemple este jovem rapaz:

que o vento sopre nele novo folego de vida

que a água o envolva com nova força
que o fogo arda em seu coração outra vez
e que a terra o renove com sua energia 
e o que o espirito transfira seu poder curativo a estas folhas
e que elas sejam o meio que lhe faça reviver!"

Enquanto Samy recitava o conjuro ela sentiu um misto de sensações, ela sentiu o vento em seu rosto, o barulho das águas, um calor aconchegante, um cheiro de terra molhada e uma voz suave e serena que cantava uma canção irreconhecível, mas  bela e cativante.
       Ao esfregar a infusão sobre o ferimento do rapaz, que agora já parecia sem vida, ela sente ele estremecer! Ela espera alguns segundos e todas aquelas sensações reconfortantes somem! O que resta agora é somente o farfalhar das folhas nas arvores e o canto dos pássaros.
       Ela então se assusta quando uma voz  bela e potente lhe diz:
      -- Muito obrigado minha lua, você acabou de demonstrar que minha busca não foi em vão, meus sonhos revelaram você a mim, e eu estou ha muitos anos a sua procura. Não se assuste, vou lhe explicar tudo, só te peço que não prossiga sua viagem antes de ouvir tudo que tenho a dizer, após minhas explicações você poderá decidir  que caminho tomar. Só peço que me ouça, e ouça com bastante atenção... (Continuaaa...)

LEIA AQUI A PARTE 2

5 Comentários

  1. olha, querida Biula... vc me surpreendeu. Os links dentro do conto são muito interessantes. Vc não se perdeu no que escreveu, no tempo, em nada. Os verbos, até onde sei. estão no mesmo tempo tb. Está perfeito e sua criatividade é algo de se espantar. Continue o conto... vou continuar no seu blog. Viu, eu disse q vc me inspira... outra, acho q eu q vou receber autógrafo, hein.. ;) - adorei essa primeira parte

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  2. Querida Biula, o conto está bem escrito. Tem o início de uma história muito cativante e instigante. Recomendamos que você continue com esta história. Complementando o que o Cleuber falou, você realmente não perdeu a coesão, muito menos o tempo do conto. Estamos ansiosos pela continuação. Manu e Cleber.

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  3. Perfeito Biula, vc é muito boa com as palavras. Parabéns!!!

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